O CONTO DE FADAS QUE ACABOU MAL

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Dia 16 de Setembro de 2012. Nesse dia, fazia-se história. Pela primeira vez em quase vinte anos, um ciclista britânico vencia a corrida da casa, o Tour of Britain. Nesse dia, Jonathan Tiernan-Locke tornava-se num dos símbolos do ressurgimento do ciclismo britânico, juntamente com Bradley Wiggins que ganhara o Tour semanas antes ou Chris Froome.

A carreira de “JTL” como é conhecido sempre foi atribulada e marcada por azares. Em 2005, quando já era considerado uns dois maiores talentos ingleses, foi-lhe diagnosticado o vírus Epstein-Barr, que é bastantes vezes associado à mononucleose infecciosa. Só regressaria às corridas em 2009, mas outra vez o azar bateu-lhe à porta, com a sua equipa na altura a fechar portas a meio da temporada. Em 2010 é-lhe dada nova oportunidade, desta vez por parte da Rapha Condor, e após um primeiro ano discreto, começa a mostrar a doença estava completamente ultrapassada, fechado no 5º lugar e conquistando a classificação da montanha no Tour of Britain em 2011. Este resultado viria a garantir-lhe novo contrato, desta vez com a Endura Racing.

jtl

2012 tem um começo fulminante, arrecadando em Fevereiro o Tour Méditerranéen e o Tour du Haut Var. O Haut Var foi especialmente marcado por um grande duelo entre Tiernan-Locke e um tal de… Nairo Quintana, que dava na altura os seus primeiros passos na Movistar. No entanto, na chegada em Fayence (na mesma subida onde Carlos Betancur ganhou no Paris-Nice deste ano), o britânico faz uma subida incrível, não dando quaisquer hipóteses aos adversários. O confronto entre Locke e Quintana viria a repetir-se mais tarde na Vuelta a Murcia, mas desta vez era o colombiano que levaria a melhor.

(ver a partir dos 5 minutos)

Apesar do bom início de época, a má sorte voltou a atingí-lo. Em Maio, no Lincoln GP fractura a clavícula e regressa um mês depois na Route du Sud, vencendo depois o Tour Alsace. No Tour of Britain faz uma das grandes prestações da temporada, muitas vezes controlando sozinho a situação de corrida nas etapas mais selectivas, e vence com 18 segundos de vantagem sobre Nathan Haas. Mas o melhor ainda estava para vir. JTL é seleccionado para os mundiais e aproveitando o uso da sua explosividade, consegue terminar no 19º lugar, uma excelente prestação para alguém que corria na altura no escalão continental. Algo que não passou despercebido à Sky, que o contrataria para 2013.

A época de 2013 acaba por ser uma completa antítese da época anterior. Locke não se terá adaptado ao rigoroso sistema de treinos imposto pela Sky e os problemas físicos (e psicológicos), juntamente com a subida de nível do pelotão, ditaram um ano desastroso, apenas terminando 7 provas durante toda a época. Mesmo assim, é seleccionado para representar a Grã-Bretanha nos mundiais em Florença, mas dias antes da prova, anuncia a sua não-participação, alegado falta de forma.

A verdade é que não demorou até sair a público, escassos 3 dias depois, que o seu passaporte biológico apresentava valores irregulares, e após grande batalha judicial, é banido por 2 anos e é-lhe retirado a vitória no Tour of Britain e o top 20 nos Mundiais. Um (mais que provável) final cruel para alguém que passou tantas adversidades durante a carreira. A vontade de vencer, talvez, era demasiado grande.

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